Escolas e professores começam a se preparar para o Novo Ensino Médio

Escolas e professores começam a se preparar para o Novo Ensino Médio

André tem 15 anos e desde criança repete para a família a profissão que deseja ter: “Piloto de avião! Desde os meus 10 anos de idade sei o que quero e já estudo para passar na prova de uma escola de aviação”,  conta André Bueno, estudante do 9º ano no Ensino Fundamental do colégio Salesiano.

Ele já sabe que vai ter que se dedicar bastante à área de exatas. E esse foco pode começar bem antes de ingressar em uma graduação. Já no Ensino Médio, o André pode escolher aprofundar os estudos nessa área.

Essa é a grande diferença do Novo Ensino Médio, que começa a ser aplicado em 2022 e vem repleto de mudanças. Um desafio e tanto, não só para alunos como também para quem vai conduzir as adaptações: escolas e professores.

Uma mudança atrás da outra

A grande motivação do Novo Ensino Médio é desenvolver o protagonismo do aluno, afinal é ele quem vai escolher as áreas em que deseja aprofundar o conhecimento e assim definir melhor o rumo profissional no chamado itinerário formativo.

A carga horária vai passar de 800 para 3.000 horas de aulas durante os três anos de estudo, ¨60% para disciplinas amplas e 40% para as áreas específicas. As matérias tradicionais vão ser dadas de forma diferenciada, por áreas de conhecimento. E as específicas que incluem itinerário formativo, eletivas e projeto de vida, prometem ser mais dinâmicas, com diversos formatos (projetos, oficinas, núcleos de estudo, por exemplo).

A Lei 13.415 que institui o Novo Ensino Médio é de 2017, de lá para cá o assunto entrou em pauta mas com a confirmação da implementação em 2022, as escolas começaram a se aprofundar ainda mais no tema para fazer todas as alterações necessárias e olha que não são poucas.

É por isso que algumas escolas passaram o ano de 2021 estudando a implantação do novo Ensino Médio. A supervisora do Ensino Médio do Colégio Salesiano, Fabíola de Almeida Marques, explica que há um núcleo de estudo sobre o tema para que as mudanças sejam aplicadas da melhor forma:

 

“Esse grupo é formado por educadores de diferentes setores e diversas funções: equipe  pedagógica, técnicos administrativos, professores… É um momento muito rico de diálogos, análises e tomadas de decisões. O Colégio está se organizando pedagógica e administrativamente.”

 

Preparação das escolas particulares

O Espírito Santo tem 60 escolas particulares que ofertam o Ensino Médio, todas com realidades diferentes. Montar a organização para as mudanças previstas está sendo uma tarefa difícil e a perspectiva é de que isso ocorra de forma gradual.

Como cada escola tem liberdade para organizar a oferta do itinerário formativo, vai haver diferenças. Em algumas instituições a mudança pode ser mais radical já no primeiro ano de implantação, em outras não, mas todas precisam implementar o novo formato em 2022.

O vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares do ES (Sinepe), Eduardo Costa Gomes, alerta que as escolas tem dois principais desafios: montar o currículo com as disciplinas do itinerário formativo (aprofundamento, projeto de vida e eletivas) e fazer uma adequação do quadro de profissionais que vão lecionar as matérias.

Estudo na Rede Pública

Em todo o Estado, 45 mil alunos devem ingressar no Ensino Médio em 2022. No caso da Rede Pública de ensino, a Secretaria de Educação fez uma análise em todos os municípios, como afirma a gerente de Ensino Médio da Sedu, Rosângela Vargas.

“A gente fez um estudo intenso da nossa rede para entender as particularidades de cada escola, para identificarmos quantos e quais itinerários cada instituição vai ofertar. Dependendo do tamanho da escola, pode acontecer a oferta de dois até cinco itinerários diferentes. Assim os alunos vão ter um leque de escolha pertinente.”

A escolha do itinerário vai ser feita já na matrícula pelo site da Sedu www.sedu.es.gov.br mas pode ser alterada ao longo do Ensino Médio já que nas escolas estaduais, o itinerário formativo vai ser oferecido a partir do segundo ano.

Desafio para professores

Novidade para os alunos, para a escola e também para os professores. Quem estava acostumado a lecionar apenas Geografia, por exemplo, pode ter que se especializar em assuntos mais específicos, como por exemplo, a ocupação urbana. Dessa forma ele vai poder também se encaixar no ensino de matérias do itinerário formativo.

Para o  Sinepe, muitas escolas  querem aproveitar os professores das instituições nas disciplinas de aprofundamento do itinerário formativo mas também vai haver contratação de profissionais, como explica o vice-presidente, Eduardo Costa Gomes:

“Por exemplo, se o professor da escola se adequar bem a disciplina específica, ele pode assumir turmas e ter a carga horária aumentada. E pode ocorrer também a contratação. Se a escola vai oferecer, por exemplo, a disciplina de fotografia e não houver profissional capacitado, será preciso buscar no mercado”

Mais carga horária de trabalho em uma única escola pode reduzir a tradição de lecionar em mais de uma instituição mas para isso os profissionais precisam de treinamento.

novo Ensino Médio promete também mexer com a forma de lecionar, que já vem mudando ao longo dos ano, como avalia o professor de Geografia do Salesiano, Lucas Campos:

“É uma nova perspectiva de ensino e de avaliação como desenvolvimento de projetos, feiras, protótipos de produtos. O aprendizado dos alunos começa a tomar um outro formato. O novo Ensino Médio estimula que o estudante seja mais protagonista e isso exige um aprofundamento do professor”.

A supervisora do Ensino Médio do Salesiano, Fabíola de Almeida Marques, disse que o treinamento dos professores começou já há algum tempo:  “Em 2021 tivemos ações formativas locais e da Rede Salesiana Brasil, como formação geral. Durante o ano 2022, teremos formação continuada mais específica”.

 

Principais mudanças

* Só quem ingressar no Ensino Médio em 2022 vai cursar o novo modelo.

* A carga horária passa de 2.400 para 3.000 horas nos três anos do ensino.

* 60% das horas é para as disciplinas obrigatórias da Base Nacional Comum Curricular, como português, história, geografia, etc.

* 40% da carga horária é para itinerários formativo.

Itinerário formativo são as matérias mais aprofundadas que o aluno vai escolher cursar, de acordo com a área que tem mais afinidade.

* Cada escola terá que oferecer pelo menos uma opção de área do itinerário formativo. São elas:  Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Humanas e sociais aplicadas; Formação técnica e profissional.

* Os alunos também vão escolher as eletivas que são matérias extras relacionadas a enriquecimento  cultural ou temas específicos (como fotografia e empreendedorismo, por exemplo)

* A disciplina projeto de vida é obrigatória e tem o objetivo de ajudar o aluno a descobrir qual a trilha de estudos mais adequada ao futuro profissional que deseja.