Campanha com ataques ao Congresso gera preocupação e apelos por moderação

Campanha com ataques ao Congresso gera preocupação e apelos por moderação

Uma campanha de vídeos disseminada em redes sociais, com críticas diretas ao Congresso Nacional, tem provocado preocupação entre parlamentares, lideranças políticas e analistas. A mobilização gerou uma série de manifestações públicas em defesa do diálogo democrático e da convivência respeitosa entre os Poderes.

Os primeiros vídeos começaram a circular na internet após a derrubada do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo Congresso, no dia 25 de junho — uma das maiores derrotas do governo federal na atual legislatura. No dia 27, o partido do governo divulgou em suas redes um vídeo criado com inteligência artificial, defendendo a cobrança de impostos mais altos dos super-ricos, dentro do discurso de justiça tributária.

No entanto, economistas avaliam que o aumento do IOF não se enquadra nesse princípio, já que a elevação do imposto encarece o crédito e penaliza principalmente as famílias de menor renda. Para o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o imposto tem efeito social regressivo: “É um imposto que gera pouco, de qualidade ruim e contribui para juros mais altos. Quem mais sofre é justamente quem tem dívidas — normalmente os mais pobres — enquanto quem tem poupança se beneficia”, explicou.

Em resposta, no dia 29, partidos de oposição, como União Brasil e Progressistas, publicaram outro vídeo, também produzido com IA, criticando o discurso de polarização social e política. A partir do fim de semana, perfis que se identificam como militantes de esquerda passaram a compartilhar vídeos sem assinatura partidária, atacando diretamente o Congresso e classificando os parlamentares como inimigos do povo. O presidente da Câmara, Hugo Motta, tornou-se um dos principais alvos.

Na segunda-feira (30), o partido do governo divulgou novo vídeo reiterando a defesa de que os super-ricos devem pagar mais impostos. No mesmo dia, Hugo Motta reagiu aos ataques, alertando para o risco de divisão social:

“Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos. A Câmara derrubou o aumento do IOF com ampla maioria de deputados de diferentes correntes políticas. Polarizar a sociedade só prejudica o país. Avisamos que a matéria teria dificuldade de passar”, declarou.

Em meio ao clima de tensão, membros do governo e aliados pediram moderação. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, repudiou ataques pessoais: “Debate e divergência fazem parte da democracia, mas não autorizam agressões pessoais contra o presidente da Câmara”. O líder do governo na Câmara, José Guimarães, reforçou que o partido “luta por princípios e propostas, não contra indivíduos”.

No Senado, o líder do governo, Randolfe Rodrigues, negou que haja incentivo a ataques institucionais: “Qualquer agressão dessa natureza é condenada por nós. Não parte do governo nem dos partidos aliados qualquer intenção de atacar o Congresso”. Já o líder da oposição, Rogério Marinho (PL), responsabilizou o Executivo pela escalada de tensão: “É o mesmo governo que transfere responsabilidades ao Congresso, enquanto instiga o confronto social para impor sua agenda”.

Para o cientista político Carlos Pereira, o Executivo não pode transferir ao Legislativo responsabilidades que são essencialmente suas: “No presidencialismo, a população vê o governo como o principal responsável por políticas como controle de inflação, desemprego e equilíbrio fiscal. Transferir culpa não é crível para o eleitor”, avalia.

Com a crise exposta nas redes, o momento reforça os apelos de parlamentares por mais equilíbrio, moderação no discurso e respeito às atribuições de cada Poder para evitar a radicalização política e social no país.