Saúde mental: empresas podem garantir saúde dos funcionários contra a Síndrome de Burnout

Saúde mental: empresas podem garantir saúde dos funcionários contra a Síndrome de Burnout

O esgotamento profissional ou estresse crônico no trabalho tem nome: Síndrome de Burnout. Desde o dia 1º de janeiro, a patologia é reconhecida como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde. Isso significa que agora os funcionários das empresas que lidam com essa enfermidade têm direito ao afastamento por licença médica, estabilidade e outras garantias previstas nas leis trabalhistas.

Segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil é o segundo país em número de casos de Burnout. Com essa doença cada vez mais notificada, a atenção com a saúde mental segue em alerta.

De acordo com a pesquisa World Mental Health Day 2021, realizada pelo Instituto Ipsos, 75% dos brasileiros se preocuparam com a saúde mental no ano passado.

Segundo a psicóloga organizacional especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva e professora da FGV Edwiges Parra, partindo do ponto de vista organizacional, as empresas têm papel fundamental na vida de seus colaboradores, não apenas no âmbito profissional, mas devido ao senso de comunidade e pertencimento.

Como um líder deve se posicionar diante disso

Edwiges destacou os pontos de atenção, ações palpáveis na prática e como deve ser o posicionamento do líder ou gestor diante de uma situação que pode acarretar o desenvolvimento de Burnout em um colaborador.

Para a especialista, visando estabelecer um ambiente mentalmente saudável para os funcionários, alguns pontos merecem atenção da empresa na hora de manter uma relação de trabalho com seus colaboradores:

Empresas devem ficar atentas a alguns pontos fundamentais:

“O primeiro ponto de atenção é conhecer seus colaboradores. As empresas devem reunir as informações que já dispõem, mas não dão a devida importância, tais como relatórios de saúde da companhia que averiguam a saúde geral de suas pessoas dentro da organização. O cruzamento desses dados com os relatórios de pesquisa de clima, que não somente medem o nível de satisfação de seus funcionários, mas também a escala de humor predominante na cultura da empresa, vai traduzir a qualidade das relações e habilidades sociais dentro da organização.”

“O segundo foco é promover a saúde mental de forma integrativa, dentro do contexto da saúde clínica. Ou seja, se o ambiente de fato é inclusivo, diverso e respeita as biografias existentes, trabalhando com o possível para o bem-estar de todos e compreendendo os cenários e a realidade disposta do momento, deve-se contar com uma rede de apoio de médicos especializados (psiquiatra, psicólogo, cardiologista, endocrinologista, nutricionista e profissionais de educação física), além também de uma rede de apoio social (jurídica e econômica), para promover a integração das famílias, líderes e colegas de trabalho.”

“No cenário atual, em um momento de pandemia e novas perspectivas, tecnologia 4.0, as empresas devem ser um espaço de promoção da saúde como um todo, fazendo conexões, com ações concretas, sustentáveis e com longevidade para haver monitoramento, pesquisa e ações corretivas”, destacou.

Caso uma empresa identifique que um colaborador está precisando de suporte psicológico, Edwiges destacou o que pode ser feito pelos gestores.

Segundo ela, é extremamente importante considerar o quanto cada gestor conhece as pessoas, dentro de cada grupo, e compreendem aqueles que fazem parte do círculo.

“Olhar para alterações comportamentais e emocionais podem auxiliar a identificar sinais. O líder/gestor precisa estar alerta e envolvido com sua equipe, identificando, por exemplo, o estado de humor e desempenho do colaborador”, afirmou.

Se o colaborador não estiver passando por dificuldades com questões relacionadas ao trabalho (questão técnica, habilidade, novo cargo), orienta-se que haja uma conversa não invasiva, apenas do ponto de vista da percepção, oferecendo ajuda para a resolução do problema e abrindo um espaço saudável para a discussão do problema.

A psicóloga desta que caso haja a percepção do desconforto ou problema, o líder deve acionar os profissionais de Recursos Humanos para dar suporte.

“Esse profissional vai entender, a partir de exemplos e evidências, o impacto/prejuízo que está acontecendo com o colaborador e a área. O profissional, nesse momento, tem o papel de ouvinte e faz a análise de cenário, não o diagnóstico”

Como olhar para a saúde mental das equipes de trabalho

Edwiges explica que ações precisam de cenário completo para o efeito esperado. É preciso compreender o que é real na empresa, com evidências, para haver resultado.

Reunir dados e informações dos colaboradores para traçar mapas visando resultados (índice de “turnover”) da empresa e motivos de desligamento; pesquisa de clima; resultados do quadro de saúde da companhia; números de afastamentos e principais CIDs apresentados. A partir dessas informações, é indicado montar uma matriz de resultados.

Estabelecer um comitê de saúde mental formado por profissionais especializados (médicos, psiquiatras e psicólogos) e os líderes dos setores de Recursos Humanos, Jurídico, Financeiro e Comunicação da empresa.

As empresas não devem evitar falar sobre o tema e precisam buscar entendimento sobre o enquadramento como doença ocupacional e suas características (sintomas, tratamento e retorno do colaborador ao trabalho). Também é preciso compreender qual tipo de pessoa e mais suscetível e os ambientes que potencializam esse esgotamento profissional, impedindo a expressividade e qualidade de vida dos colaboradores.

Outro fator é entender como as operadoras de saúde vão funcionar a partir de agora, assim como os afastamentos, já que a Síndrome de Burnout acarreta aos colaboradores outras comorbidades além das emocionais, como gastrite, diabetes e pressão alta.

A especialista destaca que é preciso avaliar a vida desse profissional, por exemplo, se ele passou ou está passando por mudanças, como promoção, setor, política interna, diretoria, elaborar o mapa do colaborador na organização e visualizar sua jornada na companhia, averiguando quais situações podem corroborar com o surgimento da doença.

“Esse trabalho deve ser criterioso, sem rótulos ou preconceitos, com responsabilidade e empenho para a compreensão do todo”, finaliza

 

 

 

 

Reprodução: Folha Vitória